13 julho 2012

Banco de Tempo, por Isabel Portella

Tempos diversos e diferentes noções espaciais contidas em um só lugar. Partindo de uma fotografia de 1910 com o presidente Nilo Peçanha e seus cães em um banco no jardim do Palácio do Catete - então sede da presidência da República – as artistas Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa partiram de um vestígio de informação e seguiram em uma busca de sequências de instantes que pudessem aderir ao fragmentário mundo da arte.


Esta exposição, que liga o dentro e o fora da galeria, funciona como uma fita de Moebius unindo um devir contemplativo sobre o tempo e o lugar da ação. Seria a combinação entre espaços públicos de convívio social e elementos subjetivos. A partir de um desejo puramente conceitual, as artistas privilegiaram a palavra e expandiram os suportes - a fotografia e o vídeo - como meditações sobre a carga subjetiva da paisagem que configura o seu campo de ação.

As artistas utilizaram como estratégia o registro em tempo real de situações simples, como ler, descansar, refletir − experiência visual e sensória voltada para o cotidiano. Os bancos sugerem transitoriedade e desterritorialização – contaminações de um fragmento em outro num mesmo tempo. A obra, assim, é re-potencializada a cada novo banco. As artistas pensaram em parques e bancos sem fronteiras: bancos para pensar, para meditar, bancos para refletir.

Tantas vozes. Depoimentos recolhidos investigam tempos vividos, desejos latentes iguais em todos os lugares: desejos de horas. Desejos impossíveis, anseios inalcançáveis. Tanto foi dito, tanto a ser dito. Frases que sugerem, que nos fazem pensar em recortes do tempo, de pensamento, de idéias. Confronto com superfícies fluidas, mas que, paradoxalmente, indicam uma espécie de lugar projetivo e imersivo onde o visitante pode inserir-se - uma ambiência que se substancializa em espaço, que é ao mesmo tempo vivência e acolhimento.

Isabel Portella, Dezembro de 2011


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