02 julho 2012

Exercícios de Arte Lúdica, por Isabel Portella























As fotografias de Patricia Gouvêa têm uma contenção própria. A artista recusa o olhar fácil, a visão ocupada apenas com o já visto. Há que “perder” tempo e olhar além.

Os trabalhos da série in progress Exercícios de Arte Lúdica, composta de fotografias e vídeos e iniciada em 2005, são um desdobramento da pesquisa que a artista vem desenvolvendo sobre a noção de Tempo na imagem.

Patricia é artista sem fronteiras. Capta, com sua lente, atividades lúdicas, brincadeiras e jogos geralmente executados ao ar livre pelos moradores das diversas cidades por onde passou. São esses momentos de descanso e prazer, percebidos no cotidiano dos espaços urbanos, que a artista contempla. As cidades se apresentam então como lugares de observação. A idéia é encontrar situações onde as emoções e experiências propiciadas pelo jogo, pelos esportes e pelo simples tempo livre aflorem em todos nós. Segundo a própria artista, uma ode aos aparentemente “tempos-mortos”. Uma solicitação à experiência sensorial que cada espaço pode proporcionar, não na procura utópica de locais idílicos, mas no encontro de lugares verdadeiros. A passagem do tempo em atividades descontraídas como um momento de reflexão. A fuga da rotina claustrofóbica, às vezes improdutiva, como única opção para a sanidade.

Patricia compreende sua relação com o espaço a partir da ideia de tempo: procura encontrar locais onde seja possível perder o tempo útil visando transformar esse conceito em tempo lúdico-construtivo.

Francesco Careri, em seu livro “Walkscapes – El andar como práctica estética”, ressalta a proposta: “a cidade era um jogo que podia ser utilizado para o prazer, um espaço no qual viver coletivamente e experimentar comportamentos alternativos”.

Essa estratégia impede que a vida seja um espaço de identidades fixas, de atitudes comprometidas ideologicamente apenas com produtividade. A proposta, no entanto, é que esse atravessamento se configure como gesto poético.

Exercícios de Arte Lúdica propicia uma visão dos procedimentos adotados pela artista e nos instiga a procurar o nosso tempo lúdico-construtivo. E, ao colocar essas questões em jogo, apresenta o discurso poético como espaço de intervenção.

Isabel Sanson Portella Maio de 2011

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